Em 2008, tive um desafio que considero o de maior superação da minha carreira. Muito se fala e inclusão, mas pouco se faz. Tive esta experiência com um aluno surdo, ele usa um aparelho, mesmo assim, tem apenas vinte por cento de audição e compreende melhor através da leitura labial. Ele veio de uma escola também regular, porém de outro município, e a família fez questão que ele freqüente uma escola “normal”
A mãe desabafou comigo; “descobri que a maioria das escolas recusa-se a receber crianças que não se encaixam no seu critério de normalidade”. E eu pude constatar isso também na minha escola, pois apesar da maioria dos colegas defenderem a inclusão no discurso, a prática não é bem assim.
Realmente não é fácil, vivemos numa cultura preconceituosa, observei até por parte dos alunos na aceitação do colega, que num primeiro momento, ficaram curiosos, depois o isolaram e alguns, sentiram piedade. Não foi muito simples a adaptação, tanto da minha parte docente, quanto a do aluno.
Precisei vencer muitas barreiras, pois apesar de toda a experiência de 24 anos de sala de aula, nunca havia me deparado com uma situação desta. Acredito que nada acontece por acaso na vida, pois coincidentemente tenho uma sobrinha que tem a mesma necessidade especial e apesar de não conviver muito com ela, isso me ajudou bastante nos primeiros contatos que tive com o aluno.
Infelizmente a nossa formação profissional não nos qualifica para atender praticamente nenhum tipo de inclusão, e também não dispomos de profissionais nas escolas para nos dar esse apoio.
A educação requer a criação de um novo currículo que promova adaptações envolvendo objetivos, conteúdos, procedimentos didático-metodológicos e de avaliações que venham garantir a escola inclusiva, propiciando o avanço no processo de aprendizagem dos educados.
Para construir o conhecimento e a aprendizagem, é necessário que haja interação como outro, considerando a realidade que o rodeia, valorizando seu conhecimento prévio em busca de informações significativas e mais dinamizadas.
Atualmente, debate-se sobre uma proposta de educação escolar inclusiva, que se define por uma educação escolar, na mesma sala de aula, para todos os alunos, independentemente das diferenças que possam apresentar.
Os estudos indicam que a educação escolar inclusiva em Educação Infantil e Séries Iniciais são possíveis, porém num ambiente racionalmente estruturado que se considera pré-requisito para uma inclusão que quer ter sucesso.
Penso que a educação escolar inclusiva não pode ser pensada somente na colocação do aluno na sala de aula, mas se preocupar com que todos os alunos se envolvam entre si e com o professor. “A escola inclusiva deve ser a solução para as pessoas com necessidades educativas especiais, uma vez que a escola é a responsável por formar o cidadão “e a ele deve ser dada a oportunidade de obter e manter um nível aceitável de conhecimentos” (Declaração de Salamanca, 1994).
Portanto a proposta pedagógica precisa buscar alternativas que possibilitem preparar estas pessoas para exercer sua cidadania com dignidade, bem como, “sua inserção no mercado de trabalho”.( Art.2º-LDBEN).
Finalmente, uma educação escolar inclusiva que quer ser positiva deve compreender a interação benéfica entre professores, pais, coordenação e colegas de aula, formando um conjunto preocupado com a educação escolar adequada para todos. Segundo Vygotski (1997), a relação com o outro implica desenvolvimento, sendo possível se dizer que a diversidade em educação escolar inclusiva enriquece, mas se ocorrer ação e relação entre as pessoas.
Posso afirmar que tanto a turma que trabalho quanto esse aluno que recebi saíram ganhando, pois está sendo uma experiência muito rica para todos, principalmente para mim que faço a mediação entre eles. “A educação deve ser integradora, integrando os estudantes e os professores numa criação e recriação do conhecimento comumente partilhado.
O conhecimento, atualmente, é produzido longe das salas de aula, por pesquisadores, acadêmicos, escritores de livros didáticos e comissões oficiais de currículo, mas não é criado e recriado pelos estudantes e pelos professores nas salas de aula”. (Freire,1986,p.19).
Um comentário:
Olá, Farida!!! Fiquei bem contente lendo teu relato, pois dá para perceber que, apesar das dificuldades, tivesse motivação e garra para lidar com a inclusão do teu aluno. Interessante a postagem, pois uniste tua experiência com a teoria contextualizando bem tua aprendizagem. Abraço, Anice.
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