segunda-feira, 28 de setembro de 2009

“A LEITURA DO MUNDO PRECEDE A LEITURA DA PALAVRA”

Tenho uma prima que mora no interior do estado, ela nasceu surda em conseqüência da rubéola que sua mãe contraiu nos primeiros meses de gravidez. Os pais dela logo detectaram este problema e desde muito pequena ela foi estimulada a se comunicar através de sinais e a mesma sempre estudou em escolas especiais.
Tenho pouco contato com ela, a última vez que a encontrei tem mais de dois anos, mas sempre que “conversamos” é um alvoroço. Eu tento utilizar o alfabeto para me comunicar, enquanto ela se utiliza da língua de sinais, (a qual eu não consigo acompanhar pela agilidade nos movimentos) em todas as vezes que nos encontramos, sua filha faz o papel de intérprete, pois a menina é ouvinte.
Lembro que a mãe da minha prima surda dizia que sua filha apesar de ler e escrever, não conseguia entender as orientações por escrito, e justificava que o ouvinte entende a seqüência de palavras escritas porque tem uma cultura prévia oral, o que não era o caso dela, pois quem não ouve é apresentado ao português como um todo e não conhece a organização da língua.
Segundo a Professora Marilda Dutra, “Os conjuntos de palavras podem não fazer sentido na maneira como o aluno aprendeu a pensar. É como traduzir apenas as palavras de um texto em alemão ou chinês.”
Em uma das escolas na qual trabalho, tenho um aluno surdo, mas que não assumiu esta identidade, ele usa um aparelho e pouco utiliza da linguagem de sinais, ele faz leitura labial e a mãe disse que ele gosta de freqüentar ambientes com ouvintes e deixou de procurar os locais da comunidade surda por sua própria vontade,
Nos primeiros dias que trabalhei com este aluno, eu me esquecia e falava “de costas”, esquecendo-me que ele precisa ler meus lábios para me compreender. Sinto que este aluno, assim como os demais com esta delimitação, são muito observadores, aprendi com este aluno que ele necessitava ver, montar e perceber os conceitos de nodo concreto.
É claro que nem todos os surdos recebem estimulação auditiva e oral para poderem adquirir um desenvolvimento próximo dos padrões de normalidade. É muito claro que o domínio da linguagem oral permite a plena integração dele na sociedade, uma vez que essa é a forma oral de comunicação entre as pessoas.
Em educação não se pretende falar de ausências e de limitações, mas de novas possibilidades de construção não se trata apenas do que nós pensamos sobre os surdos, mas sim, do que os surdos pensam sobre si.
Penso que os surdos devem ter oportunidade de se desenvolverem lingüístico, cognitivo e afetivamente e socialmente dentro da sociedade e a escola tem papel decisivo nisto.

Um comentário:

Anice - Tutora PEAD disse...

Olá, Fárida!!! Aqui trazes uma questão bem pertinente. A pessoa surda é quem decidirá por quais meios ela prefere comunicar-se. A partir desta escolha, a escola dará suporte e meios para obtenção do aprendizado. Abraço, Anice.